Poeta do dia: Lindolf Bell (SC-BR)
Nascido em Timbó, aos 2 de novembro de 1938 – Falecido na cidade de Blumenau, aos 10 de dezembro de 1998.
Lindolf Bell - a vanguarda da palavra dita:
"A poesia é o instrumento mais generoso para eliminar a solidão, a indiferença, o desencanto, o cinismo e a discriminação.
A solidão vale como espaço para refletir em profundidade sobre nosso destino comum e a ausência de solidariedade que deseqüilibra o sistema social, acentua privilégios e exclusões. Se o poema, muitas vezes, amadurece sem terras, em solidão, sua existência (resistência) se justifica para lembrar que o ser humano mais uma vez não é ilha, mas partilha."
*Fonte: Templo Cultural Delfos.
Os Ciclos
I
Existe em nós
não o novo
mas o renascido.
Pesamos por isto as verdades
sobre a balança sem pêndulo.
E contra os que nos britam
com seu peso de ave
lançamos roucas interrogações
sobre a morte,
sim, sobre a morte,
Com anzóis a dragar-nos da memória.
Existe em nós
não o novo
mas o renascido.
Comportamos por isto o lastro,
o lastro de termos sido
e virmos a ser.
Sentimos os pequenos gritos
como ficam imensos
quando a noite junca as fibras
e quando no silêncio brotam devagar
os pais de outras nações.
Existe em nós
não o novo
mas o renascido.
E apesar da haste gritar
contra o caule
e ferir o grito
com tempos sem fim,
a essência persiste como essência.
Então, o amor nos justifica,
e, carga imersa, revela-se concepção.
Mas de um plano qualquer retornamos
com a solidão de todas as solidões.
Poema integrante da série Incorporação.
In: BELL, Lindolf. Incorporação: doze anos de poesia, 1962/1973. São Paulo: Quíron, 1974. (Sélesis, 3)
*Fonte: Revista Gulliver - cultura, histórias & questões contemporâneas (mar, 27 - 2020).
Minibiografia:
Publica seu primeiro livro de poesia, Os Póstumos e as Profecias, em 1962. Na época, cursa Dramaturgia na Escola de Arte Dramática, em São Paulo SP. Em 1963 participa na Expressão de Novos Poetas, com poemas-murais, na biblioteca paulistana Mário de Andrade, e publicou Os ciclos. É integrante do Movimento da Catequese Poética, em 1964, e autor do roteiro cinematográfico A Deriva para o filme experimental de Juan Seringo, em 1965. Em 1968 declama poemas no Show Contra, no Teatro Ruth Escobar, São Paulo SP. No mesmo ano viaja para os Estados Unidos, onde integra o grupo brasileiro no International Writing Program, na Universidade de Iowa. Lá cria, com Elke Hering Bell, uma série de poemas-objetos e objetos poéticos. De volta ao Brasil, passa a viver em Blumenau SC, onde leciona História da Arte na Fundação Universidade Regional. Participa na I Pré-Bienal de São Paulo, em 1970, com poemas-objetos. Em 1984 recebe o Prêmio de Poesia, pelo livro Código das Águas, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte. Sua obra poética inclui, entre outros, os livros As Annamárias (1971), As Vivências Elementares (1984) e Iconographia (1993). A poesia de Lindolf Bell, de tendência contemporânea, é vinculada, nos anos 60, ao engajamento social e literário do autor. A partir de 1968, no entanto, seu conteúdo poético se volta para a interiorização pessoal e passa a tematizar a memória, as origens e a terra natal.
* Fonte: Enciclopédia de Literatura Brasileira/Itaú Cultural
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